sexta-feira, 19 de julho de 2013

Picolé...

Apesar do sol, o vento roçava na minha pele, deixando-a fria, e quando era mais forte chegava a me encolher. Era linda a cena. Um mar límpido a minha frente, e eu brincava com a fina areia com os pés, enquanto lia um livro qualquer à beira da praia, sobre um homem que de um dia pro outro resolveu jogar tudo para o alto e mudar de vida. Então fui interrompida por um carrinho de picolé que buzinava em minha frente. O condutor era um senhor com seus 80 anos, talvez pouco mais, ou pouco menos. Buzinava em um certo ritmo, brincando com um garoto que não devia passar de uns cinco anos, que se encantava com aquele som. Ambos sorriam, o menino olhando para ora vendedor, outrora para a buzina. Mas tão rapidamente quanto chegou, o garoto se foi. Não levou nenhum picolé. De repente percebi a cena acabou. Meio que por inércia, fiquei encarando o senhor e, quando este retribuiu o olhar me pegando de surpresa, decidi não fingir que não estava olhando e desviar, mas sim sorrir para ele. Disse-me algumas palavras que não entendi, e depois de algumas tentativas de repeti-las, conversávamos sobre a busca de comida pelas pombas e gaivotas na beira da praia. Não me parecia um assunto muito importante, tampouco muito comum. Mas era um senhor bem simpático, certamente. Falava de um jeito que emanava calma, em um tom mais baixo, reconfortante. Porém seu olhar carregava um misto de cansaço e tristeza, que a idade só fazia agravar.
Parecia não ter vendido muitos picolés, era inverno, e por mais limpo que o céu estivesse, a temperatura ainda era baixa. Já passavam das 3 da tarde, e seu olhar tentava encontrar possíveis clientes, mas a praia se esvaía a cada minuto. Passado um tempo, ele continuou seu trajeto, com o que ainda lhe restava de esperança e energia. Pelo caminho foi deixando sua marca pela areia, e nas pessoas que encontrava. Naquele momento me senti como uma criança novamente, e junto daquele sentimento, veio uma inocência que só se tem quando a experiência neste mundo é pequena:

- Senhor, eu queria poder lhe comprar todos os picolés – eu sussurrei, olhando para o tempo...

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