Uma formiga, duas formigas, uma colônia de formigas. Sobem e descem
sem parar. O tempo voa devagar. Uma garota, uma mãe, um celular. Sentam-se ao
meu lado no banco.
“Mãe, vamos embora!”, pede a garota ansiosamente. “Espera só um pouco,
estou tentando fazer algumas ligações”, responde a mãe. “Mas eu quero ir
embora, mãe, vamos! Vamos!”. A menina não prestara muita atenção no que a mãe
dissera, só pensava em ir. Olhei para ela, estava pulando e brincando com seus
longos cabelos. Devia ter seus 6 anos, e lembrei que nessa idade eu era um
pouco parecida com ela.
“Mãe, você é muito ‘sabidona’!“, disse a garota. Fiquei tentando
imaginar o porquê daquela afirmação. Ela repetiu a frase algumas vezes, e
perguntou novamente se podiam ir embora.
“Estou tentando ligar pra alguém, mas não consigo. O celular não completa
as ligações nem manda mensagem“. Ela era uma criança, e aquelas palavras não
tinham importância. Uma criança, que naquele momento só precisava se preocupar
em brincar, enquanto esperava. Uma criança, que quase todo o tempo só precisava
se preocupar em brincar. Lembrei-me de como as coisas eram mais simples naquele
tempo. De como tudo era mais fácil, e a felicidade, singela. Mas também as
emoções mais afloradas. Todo fim era o mais triste, toda briga a mais dolorosa.
Mas você é você mesmo, sem se preocupar em ser nada ou ninguém mais.
Olhei para o lado novamente. A garota se foi, sem eu nem ter notado. A
infância se foi, o tempo estava acabado.