quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Devaneios infantis

Uma formiga, duas formigas, uma colônia de formigas. Sobem e descem sem parar. O tempo voa devagar. Uma garota, uma mãe, um celular. Sentam-se ao meu lado no banco.
“Mãe, vamos embora!”, pede a garota ansiosamente. “Espera só um pouco, estou tentando fazer algumas ligações”, responde a mãe. “Mas eu quero ir embora, mãe, vamos! Vamos!”. A menina não prestara muita atenção no que a mãe dissera, só pensava em ir. Olhei para ela, estava pulando e brincando com seus longos cabelos. Devia ter seus 6 anos, e lembrei que nessa idade eu era um pouco parecida com ela.
“Mãe, você é muito ‘sabidona’!“, disse a garota. Fiquei tentando imaginar o porquê daquela afirmação. Ela repetiu a frase algumas vezes, e perguntou novamente se podiam ir embora.
“Estou tentando ligar pra alguém, mas não consigo. O celular não completa as ligações nem manda mensagem“. Ela era uma criança, e aquelas palavras não tinham importância. Uma criança, que naquele momento só precisava se preocupar em brincar, enquanto esperava. Uma criança, que quase todo o tempo só precisava se preocupar em brincar. Lembrei-me de como as coisas eram mais simples naquele tempo. De como tudo era mais fácil, e a felicidade, singela. Mas também as emoções mais afloradas. Todo fim era o mais triste, toda briga a mais dolorosa. Mas você é você mesmo, sem se preocupar em ser nada ou ninguém mais.

Olhei para o lado novamente. A garota se foi, sem eu nem ter notado. A infância se foi, o tempo estava acabado.

sábado, 7 de setembro de 2013

Esbarro

Ela não sabia se era coincidência ou não. Tampouco se a agradava ou incomodava. Só sabia que sempre acontecia.
Não eram só os horários. Talvez nem o local. Era a intuição. Estava sempre certa, por mais que logicamente, o caminho indicado pudesse ser outro.
Por quê? Perguntava-se constantemente. Às vezes preferia não sentir nada. Aquilo era como uma droga, e ela, uma viciada. E assim como qualquer droga, era bom consumi-la, mas depois era dor, tristeza e ansiedade.
"Se eu pudesse canalizar..." Mas não podia. Não sabia como, ao menos. Todo aquele potencial gasto em uma coisa da qual gostaria de fugir.
Ou talvez fosse o contrário. No fundo ela sabia que ainda desejava tudo aquilo. E se por um lado a incomodava, a intuição era um tipo de elo que ainda restava entre eles. Suas mentes, de alguma forma, ainda estavam conectadas. Mas ela não sabia se deveria cortar a conexão. Ela só não sabia...

domingo, 1 de setembro de 2013

La vita

"O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela." 
Fernando Pessoa