quarta-feira, 17 de abril de 2013

Mirante


Lá estava ela. Vinha com aquele olhar, misto de certeza e insegurança. Como conseguia? (...) Eu já nem me importava mais com as pessoas ao redor. Só queria tê-la ao meu lado...
Fico pensando porque eu ainda estava ali. Não fazia sentido. Nada fazia, aliás. Ela finalmente chega e lhe digo:
- É um plano ambicioso, este seu.
- Está pensando em desistir, é? – Ela retruca. Aquele tom bravo em sua voz, mesmo que fingido, a deixava ainda mais deslumbrante. Mas eu ainda me perguntava o que estava fazendo ali com ela.
- Não, não... Só um comentário mesmo... – as palavras saíram da minha boca sem eu nem raciocina-las primeiro. O que estava acontecendo?
- Eu entendo o que está sentindo. Minha situação não é muito diferente da sua. Ao contrário, talvez seja até pior – disse ela, com um tom de angústia em suas palavras.
Uma corrente de vento nos acerta em cheio, fazendo seus cabelos balançarem e cintilarem à luz do pôr do sol. Percebi então que não tinha mais volta. Estávamos os dois sozinhos, fazendo planos que nunca sonhei que estaria fazendo agora. Eu não deveria estar ali. Não podia. Mas a vontade era maior que tudo, maior que eu.
Eu nos observava como se fosse outra pessoa. Parecia que ela estava viajando num mundo paralelo, não estava ali comigo. Estava? Vagando em meus pensamentos, imaginava o que poderia acontecer se a verdade viesse à tona, e isso me causava um frio na espinha, uma vontade incontrolável de sair correndo e me esconder de tudo e de todos... de me esconder de mim. Imaginava as consequências deste ato, que mesmo que ninguém no mundo soubesse, iríamos carregar a vida inteira. E enfim imaginei como eu estaria agora se fosse tudo diferente, ou se não tivéssemos nos conhecido naquele dia... Ah... aquele dia... Eu já estava nervoso, quando ela apareceu... E de repente tudo vira de cabeça para baixo.
O silêncio pairou entre nós mais uma vez. Olhávamo-nos como se um lesse a mente do outro. Era estranho como não falávamos quase nada, ou o que era falado o fazíamos o mais implícito possível, mas mesmo assim conseguíamos entender o real sentido das palavras.
- Como? – Eu pergunto.
Ela desviou o olhar, e em seguida me fitou novamente, e soltou o ar dos pulmões como se pesasse vários quilos.
Como, eu ainda pensava. Mas ela não sabe responder. Não sabe sequer como tudo isso começou, e nem onde vai parar...

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